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Segunda-feira, 10 de Junho de 2024

Vizinha denuncia importunação sexual, ameaças e tentativa de atropelamento contra criança em Cruzeiro do Oeste

Vítima procurou o Portal Umuarama News para relatar o fato, pedir justiça e compreender porquê, mesmo em face das denúncias realizadas oficialmente à Polícia, nada foi feito.

“Começou quando eu tinha uns 9 anos de idade (…) esse senhor (…) ele pegava, tirava os órgãos genitais e ficava mostrando pra gente. (…) Ele ficava mostrando pros meus irmãos, mostrando pra mim, e daí a gente foi crescendo com isso”.
 

O início do relato acima é de uma moradora de Cruzeiro do Oeste. Ela entrou em contato com a redação do Umuarama News alegando ser vítima de importunação sexual por parte de seu vizinho. A importunação começou cedo: já aos 9 anos, a vítima conta do desprazer e do medo em conviver com essa situação. Hoje, ela tem 47 anos.

“Ele mostrava e ficava balançando, ali, ele ficava fazendo aquelas coisas que eu não gosto nem de comentar. E ele, também, ficava me cantando (…) falava que ia dar dinheiro pra mim, ‘pra mim pra
 

Ao longo da reportagem, nós ocultaremos o nome dos envolvidos, indicando-lhes apenas iniciais fictícias, para a proteção e resguardo de qualquer hostilização que possam sofrer com a publicação da matéria.

“N.” conta que, da infância à vida adulta, as importunações nunca pararam. À época, segundo ela, não havia o costume de se fazer denúncia; fosse, a princípio, para não “comprar briga com os vizinhos”, fosse por medo da família do suposto importunador:

“Eu tinha medo dele, da família dele. (…) Os filhos dele não gostam de mim porque eu sou negra. Já ‘disparou’ palavras, pra mim, que eu sou macaca, que eu tenho que viver com a minha família no meio do mato. Que eu sou macaca chita, que eu sou chipanzé, que eu sou biscate (…) falam que eu sou vagabunda. Isso até um policial presenciou: ela me chamando de vagabunda. E os filhos ameaçando eu de morte na minha casa”.


 

Segundo “N.” as importunações não ocorrem apenas com ela. Outros vizinhos também já presenciaram cenas semelhantes:

“Já importunou o meu vizinho (…) tanto que ele foi até embora, daí, porque ele falou assim: ‘eu não aguento isso, ver essas coisas, não'”.

Neste momento a vítima liga para o ex-vizinho, sem sucesso. Enquanto estivemos na casa, ao longo da entrevista, não houve retorno.

“N.” segue:

“Tem uma vizinha, também, que morava pro lado de cima. Ela foi importunada, também. Tanto que ela foi embora, porque não aguentava mais. Ela não saía nem de dentro da casa dela, trancada dentro do quarto, pra ninguém perturbar ela. Mesmo assim, eles a perturbavam”.

O Portal Umuarama News conversou com a ex-vizinha, que chamaremos de “A.”.

“A.” nos conta que “na rua, a maioria são todos parentes (do importunador)” e que “eu tive que mudar por conta de fuxico, por conta de ameaça, fofoca”.

Diferentemente de “N.”, “A.” não viu o respectivo senhor se exibindo com conotações sexuais. Ela não sofreu importunações sexuais, mas relata ter sido vítima de invasão de propriedade. Na ocasião, “A.” alugava uma casa pertencente à família do vizinho.

“Eles reclamaram que estava indo um galho (do meu pé de manga) para o quintal deles e ela (uma familiar do acusado) não queria. Eu tomo muito remédio e dormi, nesse dia. Quando eu acordei, o pé de manga, que é monstruoso, estava pela metade. Eles pularam o muro e cortaram o meu pé de manga”.

“A.” nos conta, ainda, que sempre fez artesanato. As artes compreendem pintura em telha e as famosas Caveiras Mexicanas – símbolos culturais do México, bastante utilizadas em datas solenes, como o Dia dos Mortos – uma espécie de Dia de Finados no país.

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Foto: Google

O trabalho, no entanto, sempre gerou preconceito por parte dos vizinhos, familiares do denunciado:

“Eu sou aposentada. E eu gosto de pintura. Eu fazia pinturas em telhas. Para eles, eu era a bruxa da rua. Fazia saravá. A vizinha colocava (faz com a mão o gesto de quem ouve por detrás do muro ou porta) e ficavam assim, escutando, ver se tinha alguém em casa”.

“A.” relata que a vizinha “olhava pro meu quintal pra saber como o meu quintal estava, pra ligar pra dona, que também é sobrinha dela. Pra poder fazer eu mudar. Então, viver aqui é um inferno”.

Considerando as mudanças dos colegas, ex-vizinhos, perguntamos à “N.” porquê ela permanece no local. “N.” conta que a casa, ali, lhe é própria e não há as despesas que as mudanças já lhe custaram.

De acordo com “N.”, mais de três mudanças de cidade já foram empreendidas desde que as supostas importunações tiveram início, há 38 anos.

“Quando eu fui embora, aluguei a casa… As pessoas foram embora pra outra cidade (…) porque ele vivia importunando as moças que moravam aqui também”.

“S.”, atual marido de “N.”, conta que, há seis anos, quando se casou e se mudou para a casa de sua esposa, mesmo tendo ouvido uma série de acusões contra o idoso, não acreditava.

“E, nesses seis anos, eu presenciei várias coisas dele” conta “S.”.

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Foto: Vinícius Azevedo/Portal Umuarama News

Segundo relato de “S.”, “ele tirava o órgão genital na janela. E não ficava só na janela, (…) ele vinha na área, até no portão, de toalha, com o ‘negócio’ na mão”.

Em várias ocasiões, de acordo com “S.” e “N.”, os dois filhos do casal, de 11 e 15 anos respectivamente, são alvos das importunações sexuais do vizinho.

Perguntado sobre o modo como o vizinho os importuna, “S.” conta que “ele balança (os órgãos genitais), se excita, faz aquele gesto que não dá nem pra comentar (referindo-se à masturbação).

“T”, o filho mais novo (11), relata que, por duas vezes, enquanto ele e o irmão (15) autista brincavam no quintal, o vizinho teria se aproximado com segundas intenções.

“(…) Quando eu estava brincando com meu irmão, de bola, ele saiu de dentro da casa dele, começou a mostrar as partes íntimas e começou a fazer ‘aquilo’. Balançava o ‘bagulho’ dele. Aí eu fiquei todo pálido, chamei minha mãe e meu pai… Aí meu irmão também começou a falar, começou a passar mal e deu convulsão (…) e eu comecei a chorar”.

O menino conta, ainda, que em determinada ocasião, sua mãe estava limpando a casa quando foi surpreendida pelo homem, que se estimulava no terreno vizinho à residência: “ele saiu da casa dele, foi até no mato, aqui na casa ao lado, e começou a mostrar pra minha mãe. Eu tenho medo que ele venha e comece a fazer aquilo comigo”.

A última importunação sexual aconteceu recentemente, há menos de um mês, quando o casal e os filhos retornaram a Cruzeiro do Oeste, após passarem um ano morando em Cianorte. Na ocasião, todos comemoravam o aniversário de “S.” e o relato familiar é uníssono.

A família acionou a Polícia Militar (PM), confeccionou o Boletim de Ocorrências (B.O.), mas disse que nada mais foi feito por parte das autoridades.

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A redação do Umuarama News teve acesso a dois B.Os registrados por “N.” onde ela relata importunação sexual, injúria racial e tentativa de atropelamento.

Após a última denúncia à PM, “N.” relata que as crianças se tornaram vítimas em potencial dos familiares do idoso, e que uma das filhas do vizinho teria tentado atropelar seu filho mais novo.

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Foto: Vinícius Azevedo/Portal Umuarama News

“T.” contou à nossa equipe que voltava de uma partida de futebol quando foi “fechado” pela filha do vizinho. Ele descia a rua de bicicleta, ela subia a rua de carro.

“Eu (…) estava vindo para almoçar, né? Aí (…) a filha dele veio subindo e eu estava descendo. Quando que ela veio, ao invés de vir pelo outro lado, ela veio na minha direção. Eu virei, com tudo, com a bicicleta. Ela veio pegar eu, tentar me atropelar, só que aí eu virei; me ralei tudo e eu tô cheio de cicatrizes”. (“T.” nos mostra os machucados pelo corpo).

A partir deste retorno recente à cidade, a família de “N.” e de “S.” relata estar “vivendo um inferno” – inferno, este, causado pela família do idoso.

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Foto: Vinícius Azevedo/Portal Umuarama News

Nós procuramos a Delegacia de Cruzeiro do Oeste e, por meio de nota, o delegado responsável pela comarca preferiu não se manifestar.

“Boa tarde (…). Estive olhando o caso. Existem vários B.Os entre as partes, e as investigações ainda estão no início. Tendo em vista as inúmeras versões, trata-se de crimes envolvendo idoso, criança e possível crime sexual, não vamos nos manifestar no momento. O que temos até agora são versões desencontradas que precisam ser apuradas”.

Uma das filhas do idoso entrou em contato conosco, nessa quinta-feira (06), para combinar um horário e contar as versões de seu pai e familiares. No entanto, ainda não foi possível organizar as agendas para este novo relato.

O Portal Umuarama News, valorizando o respeito e a realidade dos fatos, deixa o espaço aberto à contraparte e à delegacia de Cruzeiro do Oeste para futuras manifestações.

PORUMUARAMA NEWS

 
 

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